Política

Witzel perde apoio no próprio partido e fica isolado na Alerj

Governador perdeu apoio líder e vice-líder na base governista. Foto: Governo do RJ

O deputado estadual Márcio Pacheco, do Partido Social Cristão (PSC), se reuniu nesta sexta-feira (29) com o governador e companheiro de partido Wilson Witzel no Palácio Guanabara para formalizar a entrega do cargo de líder de governo. O vice-líder, Léo Vieira (PSC), também resolveu abandonar a função.

O desgaste entre a base e o governador foi provocado pela interferência no Legislativo por parte do secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão. As demissões no alto escalão na noite desta quinta-feira (28) foram uma sinalização negativa aos deputados governistas.

Tristão chegou a ser recebido para oitivas na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) em março, sob a acusação de espionagem nos gabinetes disparada pelo próprio presidente da Casa, André Ceciliano (PT). Na ocasião, o aliado de Witzel negou a instalação de escutas e elaboração de dossiês.

Sem acatar os apelos pelo afastamento de Tristão, Witzel substituiu na noite desta quinta seu principal interlocutor com a Alerj, o secretário estadual da Casa Civil, André Moura — também do PSC do governador. De acordo com o ato de exoneração, o assessor jurídico da pasta, Raul Teixeira, assume o cargo.

Além da Casa Civil, houve uma mudança na Secretaria de Estado da Fazenda, que tinha Luis Claudio Rodrigues de Carvalho como titular. Quem assume a gestão fiscal no estado é Guilherme Macedo Reis Mercês, subsecretário de Tristão.

Pacheco confirmou que a saída tem relação com as exonerações na estrutura do governo. "Diante dos últimos acontecimentos, principalmente das mudanças na estrutura do Governo e de um possível fechamento ao diálogo com o Poder Legislativo", publicou.

Não houve menção a operação Placebo, da qual Witzel foi alvo na terça-feira (26). No entanto, o ex-vice-líder, Léo Vieira, citou em nota que endossa as investigações em curso e mencionou que deixa o cargo em respeito ao parlamento.

"Diante dos últimos acontecimentos envolvendo o governo estadual, que devem ser devidamente apurados, decidi não ocupar mais o posto de vice-líder do governo", explicou o parlamentar.

A nova gestão da Casa Civil, por sua vez, ainda não destacou um parlamentar para atuar como porta-voz de Witzel na Alerj — que atravessa sua própria crise com a reintegração dos réus da operação Furna da Onça, sob ordem judicial.

Segundo o diretório nacional do PSC, os cargos de líder e vice-líder do Executivo nas casas legislativas são "decorrentes mais da relação entre os membros dos poderes do que de partido". A sigla reiterou, em nota, que respeita a independência dos seus parlamentares.

Impeachment

Governador Wilson Witzel é alvo de dois pedidos de impeachment. Foto: Fernando Frazão / EBC

A instabilidade na base de Witzel, avaliam oposicionistas, pode pavimentar o caminho para os dois pedidos de impeachment protocolados na quarta-feira (27) como reação às buscas e apreensões em Laranjeiras na manhã anterior.

Tanto o pedido dos aliados do presidente Bolsonaro quanto o da bancada do Partido Social Democracia Brasileira (PSDB) estão sendo analisados pela Procuradoria da Alerj antes de serem despachados para a mesa de Ceciliano. Ao fim, é o presidente da Casa que detém o poder de dar partida à caça ao mandatário do governo estadual.

Um dos autores do pedido protocolado pela bancada bolsonarista, o deputado Dr. Serginho (Republicanos), aposta que a cisão na base vai alavancar a cassação.

"O impeachment, diante dos fatos gravíssimos que foram apresentados, é algo inevitável. O que se apresenta nessa entrega de cargos mostra essa toada", afirmou o parlamentar. O partido que o abrigou após a expulsão do Partido Socialismo e Liberdade (PSL), o Republicanos, também abandonou o barco do governo.

Com a jogada da oposição, o governador, que prestava contas à Polícia Federal (PF) sobre fraudes nos contratos emergenciais da pandemia do novo coronavírus, entrou na mira da maioria no Palácio Tiradentes. Numa eventual prova de fogo no parlamento, Witzel precisaria manter o apoio entre dois terços dos 70 parlamentes.

A debandada do PSC ocorre um dia após a bancada do Republicanos, com quatro representantes, oficializar a saída da base. O núcleo governista que restou da cisão bolsonarista no Partido Social Liberal (PSL) abandonou o governo em abril.

O governador não se posicionou oficialmente sobre as exonerações e rompimento com a própria base, tampouco sinalizou desfiliação do PSC. O partido negou qualquer tratativa sobre desfiliação.

Publicado às 18h

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